Mais de 45 países já adotaram o material plástico nas suas moedas, mas o Brasil, após testar a tecnologia em 2000, optou por soluções menos disruptivas
Por Roberto Menchaca García
Atualizado em 17 de junho de 2025
As cédulas de polímero avançam silenciosamente no cenário monetário global. Fabricadas com plásticos sintéticos como o polipropileno, elas duram mais, resistem melhor à sujeira e à umidade e são mais difíceis de falsificar. Ainda assim, sua adoção não foi linear. Países testaram, recuaram, adaptaram. O Brasil, por exemplo, experimentou o material em 2000, mas abandonou a ideia cinco anos depois.
A primeira tentativa real de substituir o papel ocorreu nos anos 1980, quando países como Haiti, Costa Rica e a Ilha de Man lançaram cédulas feitas com Tyvek, um polímero desenvolvido pela DuPont. Apesar do entusiasmo inicial, as notas falharam: a tinta borrava em ambientes úmidos e o desgaste comprometeu a durabilidade. O experimento foi descartado.
Nos Estados Unidos, o projeto DuraNote prometia mais resistência e segurança, mas também fracassou. Quase 30 países testaram o material. Nenhum o adotou. A virada veio com os australianos.
A Austrália, pressionada por ondas de falsificação após a adoção do dólar em 1966, iniciou uma parceria com a CSIRO, agência de pesquisa científica do país. Após anos de desenvolvimento, lançou em 1988 a primeira nota de polímero plenamente funcional: AU$ 10, comemorativa do bicentenário da colonização britânica. A tecnologia, centrada na introdução de janelas transparentes e dispositivos ópticos variáveis, se mostrou eficaz e durável.
Desde então, mais de 45 países migraram para o polímero, total ou parcialmente. Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Romênia estão entre os que adotaram o padrão em todas as denominações. Segundo estimativas do setor, até 2030, mais 20 nações devem abandonar o papel.
O Brasil participou desse processo em 2000, com o lançamento da cédula comemorativa de R$ 10 em polímero. A nota trazia Pedro Álvares Cabral no anverso e elementos gráficos que celebravam os 500 anos do Descobrimento. Mas, ao contrário do caso australiano, a experiência não resultou em adoção contínua.
Em 2005, o Banco Central do Brasil divulgou um relatório técnico. Nele, apontava que a cédula de polímero não demonstrou "superioridade técnica ou vantagem econômica" diante das condições locais de manuseio, clima e estrutura bancária. Optou-se então por continuar com o papel tradicional, reforçado com verniz.
A decisão teve base pragmática. A mudança completa exigiria investimentos pesados em equipamentos, treinamento e ajustes logísticos. A aplicação de verniz oferecia ganhos de durabilidade e higiene com menor impacto na infraestrutura financeira.
Ainda assim, a nota de R$ 10 de polímero deixou um legado. Influenciou a criação da segunda família do real, com foco em acessibilidade (como marcas táteis) e maior proteção antifalsificação. Mostrou que, mesmo sem adoção definitiva, a experimentação controlada pode gerar melhorias reais.
Hoje, não há planos anunciados para retomar a produção de cédulas de polímero no Brasil. Mas o Banco Central mantém, segundo sua própria diretriz, o compromisso de "estar à frente dos falsários e alinhado com os avanços tecnológicos". Isso mantém a porta aberta para uma eventual reavaliação futura, caso custos caiam ou as ameaças de falsificação se intensifiquem.
O caminho do polímero, portanto, não é reto nem universal. A experiência internacional mostra que sucesso depende tanto de inovação quanto de adaptação. O que funcionou na Austrália ou no Canadá pode não funcionar no Brasil. Mas cada tentativa, mesmo que temporária, ajuda a moldar o futuro do dinheiro.