A moeda de 1 centavo, que já foi parte integrante do cotidiano brasileiro, hoje é uma raridade nos bolsos e transações. Sua ausência desperta curiosidade e levanta a pergunta: por que ela desapareceu? A resposta está em uma combinação de fatores econômicos, históricos e práticos que tornaram sua produção insustentável. Esta matéria se propõe a explorar a trajetória dessa pequena moeda, os motivos para sua descontinuação, seu status atual, e o impacto da inflação em sua relevância ao longo do tempo.
Da estabilização econômica ao fim da cunhagem
A moeda de 1 centavo surgiu junto com o Plano Real, em 1994, como parte do esforço para estabilizar a economia e combater a hiperinflação. Inicialmente, foi cunhada em aço inoxidável e integrava a primeira família de moedas do Real. Com 20 mm de diâmetro, 2,96 g de massa e a Efígie da República em destaque, a moeda circulou até 1997.
Entre 1998 e 2004, passou por um redesenho e passou a compor a segunda família de moedas, agora produzida em aço revestido de cobre. Essa versão apresentava a imagem de Pedro Álvares Cabral e uma caravela portuguesa, remetendo aos 500 anos do Descobrimento. A nova moeda também ficou menor e mais leve, mas seu destino já estava selado.
Em 2004, apenas uma década após sua introdução, a produção da moeda de 1 centavo foi oficialmente encerrada. Naquele ano, cerca de 167 milhões de unidades foram cunhadas — um número expressivo, mas insuficiente para garantir sua permanência.
O custo que não compensava
O principal motivo para o fim da moeda de 1 centavo foi econômico. Em 2004, o custo para produzi-la chegava a R$ 0,09, quase nove vezes seu valor de face. Essa discrepância tornava a cunhagem um prejuízo financeiro considerável para o Estado, acumulando perdas superiores a R$ 93 milhões desde a criação do Real.
Essa lógica não é exclusiva do Brasil. Nos Estados Unidos, debates semelhantes surgiram em torno do "penny", cuja produção também se tornou economicamente inviável. A comparação internacional reforça a ideia de que, quando os custos superam os benefícios, a descontinuação é uma medida racional de política monetária.
Denominação | Valor de Face (R$) | Custo de Produção (R$) | Relação Custo/Valor |
---|---|---|---|
1 Centavo | 0,01 | ~0,09 | 9 vezes |
5 Centavos | 0,05 | ~0,13 | 2,6 vezes |
10 Centavos | 0,10 | ~0,15 | 1,5 vezes |
25 Centavos | 0,25 | ~0,22 | 0,88 vezes |
Embora outras moedas também tivessem custos superiores ao valor nominal, a moeda de 1 centavo foi a que apresentou a maior disparidade, tornando-se financeiramente inviável.
Uma moeda legal, mas praticamente extinta
Apesar da interrupção na produção, a moeda de 1 centavo ainda é considerada legal e pode ser usada como meio de pagamento. O Banco Central não determinou o recolhimento das unidades já existentes. No entanto, sua presença em transações é praticamente nula.
Isso levou ao hábito comum de arredondamento de preços — uma prática polêmica. Enquanto alguns defendem que o arredondamento deve ocorrer no valor total da compra, outros afirmam que o troco exato continua sendo um direito do consumidor. Essa situação gera um debate entre legalidade e praticidade no uso da moeda.
O peso da inflação
Mesmo antes de ser descontinuada, a moeda de 1 centavo já sofria com o impacto da inflação. Com o passar dos anos, seu poder de compra foi corroído, tornando-a pouco útil. Ainda que o Plano Real tenha estabilizado a economia inicialmente, a inflação acumulada desde 1994 reduziu drasticamente o valor real da moeda. Com isso, lidar com trocos tão pequenos deixou de fazer sentido para comerciantes e consumidores.
Ainda existem bilhões?
Apesar de não serem mais vistas no dia a dia, estima-se que ainda existam bilhões de moedas de 1 centavo em circulação. Algumas fontes apontam para um número próximo a 3,19 bilhões de unidades em fevereiro de 2025; outras indicam mais de 1,2 bilhão, o que representaria cerca de R$ 31 milhões em valor total.
Essas moedas, no entanto, estão em grande parte fora do comércio — entesouradas por colecionadores, esquecidas em gavetas, perdidas ou simplesmente inutilizadas.
Considerações finais
O sumiço da moeda de 1 centavo é o resultado natural da dinâmica econômica. Quando o custo de manter uma denominação ultrapassa seus benefícios práticos, sua extinção é quase inevitável. Embora ainda tenha curso legal, a moeda já não cumpre seu papel como meio de troca, sendo mais um vestígio histórico do que um instrumento monetário em vigor.
E se você ainda guarda uma moeda de 1 centavo, talvez ela não compre mais nada — mas carrega o valor simbólico de um tempo em que até o menor centavo contava.