Poucos acervos numismáticos despertam tanto interesse quanto o Gabinete Numismático do Vaticano, conhecido como Medagliere. Integrado à Biblioteca Apostólica Vaticana, o departamento reúne mais de 300 mil peças e figura entre as maiores e mais completas coleções de moedas e medalhas já formadas.
O conjunto cobre mais de dois mil anos de história monetária. Vai da Roma Antiga às emissões pontifícias modernas, passando por moedas bizantinas, medievais e renascentistas. Para pesquisadores e colecionadores, trata-se de uma referência global.
O que compõe o acervo
O Gabinete Numismático não se limita a moedas. A coleção inclui:
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moedas antigas gregas, romanas e bizantinas
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moedas medievais e modernas
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medalhas papais oficiais
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selos de chumbo pontifícios
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placas comemorativas e pedras gravadas
Esse conjunto permite estudar não apenas circulação monetária, mas também iconografia, técnicas de cunhagem e evolução artística ao longo dos séculos.
Um acervo formado por grandes coleções
A base do Medagliere foi construída principalmente entre os séculos XVIII e XIX. Nesse período, papas incorporaram grandes coleções privadas ao patrimônio da biblioteca.
Entre as aquisições mais importantes estão a coleção de Gaspare Carpegna, rica em moedas e medalhas clássicas, e o acervo da rainha Cristina da Suécia, uma das mais renomadas colecionadoras da Europa. Essas incorporações deram escala e diversidade ao conjunto.
Mesmo após perdas durante guerras e ocupações, como no período napoleônico, o núcleo da coleção foi preservado e voltou a crescer nos séculos seguintes.
Medalhas pontifícias: uma série contínua
Um dos destaques do Gabinete Numismático é a coleção de medalhas papais. Trata-se de uma das séries mais completas do mundo, com peças emitidas desde os primeiros papados até a atualidade.
Essas medalhas registram jubileus, eleições papais, eventos religiosos e obras públicas. Para o colecionador, são peças-chave para compreender a tradição medalhística europeia e a evolução do retrato papal.
Acesso para pesquisa especializada
O acesso físico ao Gabinete Numismático segue as mesmas regras da Biblioteca Apostólica Vaticana. Apenas pesquisadores qualificados, vinculados a instituições acadêmicas ou projetos de pós-graduação, podem consultar as peças presencialmente.
O manuseio é controlado e ocorre sempre sob supervisão. O objetivo é preservar materiais únicos e, em muitos casos, extremamente frágeis.
Catálogo digital amplia o alcance
Nos últimos anos, o Vaticano ampliou de forma significativa o acesso remoto ao acervo numismático. Parte expressiva das moedas e medalhas está disponível no catálogo digital da Biblioteca Apostólica.
As imagens em alta resolução permitem analisar detalhes de cunhagem, desgaste, inscrições e iconografia. Para pesquisadores e colecionadores, o acesso online se tornou uma ferramenta essencial, inclusive para estudos comparativos.
Por que o Medagliere é referência mundial
O valor do Gabinete Numismático não está apenas no volume de peças, mas na coerência do conjunto. Poucas instituições reúnem, em um único acervo, moedas da Antiguidade, séries medievais completas e uma sequência contínua de medalhas oficiais.
Isso faz do Medagliere uma fonte primária indispensável para estudos numismáticos, históricos e artísticos. Para o colecionador, o acervo serve também como parâmetro de catalogação, autenticidade e classificação.
Mais do que um depósito de raridades, o Gabinete Numismático do Vaticano funciona como um grande arquivo material da história monetária. Um patrimônio que segue vivo, estudado e, cada vez mais, acessível ao olhar especializado.
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