Detectorista acha objetos de ouro e prata na Alemanha e vai parar na Justiça
Tesouro romano descoberto em 2017 foi mantido em segredo por oito anos e reacende debate sobre a legalidade do detectorismo na Europa
Um detectorista alemão viveu o sonho e o pesadelo de qualquer praticante do hobby.
Em 2017, ele encontrou 450 moedas de prata, um anel de ouro e barras metálicas datadas de dois mil anos, próximas à vila de Borsum, na Baixa Saxônia. O tesouro romano estava ali, enterrado havia séculos — mas o achado acabou levando o autor à mira da Justiça.
Sem licença para atuar, ele escondeu a descoberta por oito anos.
Só em abril de 2025 decidiu contar às autoridades, que confirmaram o valor histórico do material.
A revelação colocou em evidência a tensão entre a lei alemã de proteção ao patrimônio e o detectorismo amador, atividade que cresce no país, mas enfrenta forte regulação.
Regra rígida para detectoristas
Na Alemanha, quem usa detector de metais para buscar artefatos precisa de autorização estadual.
A legislação de cada estado (Land) define os procedimentos, mas a norma é clara:
sem licença e curso oficial, a prospecção é ilegal.
Na Baixa Saxônia, o órgão responsável é o Departamento Estadual de Preservação de Monumentos, que supervisiona tanto arqueólogos profissionais quanto amadores.
O candidato a detectorista deve passar por formação técnica, registrar o equipamento e atuar apenas nas áreas indicadas.
Em estados mais rígidos, como Schleswig-Holstein, o uso não autorizado pode gerar multas de até 500 mil euros ou prisão de dois anos.
A justificativa é simples: a escavação amadora, se feita sem controle, pode destruir o contexto arqueológico e apagar informações valiosas sobre a história dos achados.
Quem fica com o tesouro?
Outra dúvida comum entre detectoristas é a propriedade do objeto encontrado.
Na maioria dos estados alemães vigora o princípio do “Schatzregal” — o “direito do tesouro” — que garante ao Estado a posse automática de qualquer item de valor arqueológico.
Em outras regiões, como Baviera, há maior flexibilidade: o achado pode ser dividido entre o detentor do terreno e quem o encontrou.
Mas, de modo geral, bens históricos pertencem ao poder público, que decide seu destino — normalmente museus ou coleções estatais.
No caso de Borsum, as autoridades recolheram as moedas e iniciaram um processo de conservação e estudo.
Segundo o arqueólogo Sebastian Messal, responsável pela investigação, “a demora na entrega comprometeu parte do valor científico da descoberta”.
Do segredo ao curso oficial
A boa notícia para o detectorista é que ele não será punido.
O Ministério Público arquivou o caso, alegando que o prazo de prescrição expirou.
Desde então, o homem, hoje com 31 anos, participou de um curso de detectorismo reconhecido pelo governo e passou a colaborar com pesquisas arqueológicas locais.
As moedas, agora sob guarda do Estado, devem ser expostas em museu regional após o processo de restauração.
O achado é considerado um dos maiores conjuntos de moedas romanas já registrados na Baixa Saxônia.
Detectorismo entre a paixão e a lei
Para a comunidade detectorista, o episódio reabre um debate antigo:
é possível conciliar a preservação do patrimônio histórico com o reconhecimento da pesquisa amadora?
Enquanto o Reino Unido incentiva a cooperação por meio do Portable Antiquities Scheme, que registra achados voluntariamente, a Alemanha mantém uma postura mais restritiva.
Detectoristas defendem que a parceria com arqueólogos oficiais poderia ampliar o mapeamento de sítios e fortalecer a cultura histórica, sem criminalizar o hobby.
O caso de Borsum mostra que a linha entre a aventura e a infração é tênue.
O detectorismo continua a crescer na Europa e no Brasil, mas o entusiasmo por achar o passado precisa andar junto da legalidade — e do respeito ao solo onde a história repousa.
Um homem encontrou um tesouro da era romana na Alemanha em 2017, mas só o comunicou às autoridades em 2025.
(Crédito da imagem: Bartels, PI Hildesheim, ZKD/FK Forensics)