O governo iraniano iniciou um amplo plano de redenominação monetária, que retira quatro zeros do rial, a moeda oficial do país. A medida cria o “novo rial”, que vale 10 mil riais antigos, e reintroduz uma unidade menor, chamada qiran — 100 qirans equivalem a um novo rial.
A mudança, segundo o Banco Central do Irã, busca simplificar as transações, reduzir o custo de impressão das notas e combater a confusão causada pelos altos valores nominais. Hoje, uma simples compra pode custar milhões de riais, reflexo da inflação crônica, que passa de 40% ao ano.
Especialistas, porém, veem o corte de zeros como um ajuste apenas simbólico. Sem reformas fiscais e monetárias mais profundas, dizem, o novo rial tende a sofrer o mesmo destino do antigo.
“A troca de cédulas muda o número, não o valor real da moeda”, resumiu o economista Mason Farhad Nariman, comparando a medida a “mudar a escala de um termômetro sem alterar a temperatura”.
A reforma foi aprovada após anos de debate e será implementada em duas fases: dois anos de preparação e três de transição, período em que as duas versões da moeda circularão juntas. O longo prazo revela a cautela do governo, que espera melhorar o ambiente econômico até que o novo dinheiro esteja totalmente em uso.
O plano ocorre em meio a fortes sanções internacionais e à desvalorização recorde do rial, que chegou a ultrapassar 1,1 milhão de riais antigos por dólar no câmbio paralelo. Essas restrições limitam o acesso do Irã a divisas estrangeiras e alimentam a inflação, forçando o Estado a imprimir mais dinheiro para cobrir déficits.
A história recente mostra que redenominações isoladas raramente dão certo. Casos como o da Turquia, em 2005, funcionaram apenas porque vieram após disciplinas fiscal e monetária rígidas. Outros, como o do Zimbábue, fracassaram por manter políticas inflacionárias e falta de credibilidade.
O Irã, dizem analistas, se parece mais com o segundo caso. Sem independência do banco central, unificação das taxas de câmbio e controle de gastos, o novo rial corre o risco de perder valor rapidamente — e de forçar uma nova reforma dentro de poucos anos.
Para os numismatas, a mudança traz interesse adicional: novas cédulas e moedas deverão circular a partir da próxima década, marcando mais um capítulo da longa história monetária do Irã, que já adotou nomes como qiran e toman desde o século 19.