Em 2008, o Zimbábue colocou em circulação uma cédula de 100 trilhões de dólares. O número, difícil até de pronunciar, sintetiza um dos episódios mais extremos já registrados na história do papel-moeda e ajuda a dimensionar o colapso da moeda local naquele período.
A nota surgiu no auge de uma crise que corroía o valor do dinheiro em ritmo acelerado. Os preços subiam de forma constante e imprevisível. Cédulas com milhões e bilhões tornaram-se comuns em pouco tempo, incapazes de acompanhar o custo de produtos básicos.
A resposta das autoridades foi emitir valores cada vez maiores. Se os preços aumentavam, as notas precisavam crescer. Assim, o que começou com milhões passou para bilhões e, depois, trilhões. A cédula de 100 trilhões marcou o ponto máximo desse processo.
Apesar do valor impresso, a nota tinha uso limitado. Em muitos casos, não bastava para pagar uma passagem de ônibus ou uma refeição simples. O dinheiro circulava em sacos e mochilas. Salários eram pagos em grandes volumes de papel, sem garantia de compra no dia seguinte.
A inflação atingiu níveis raros na história moderna. Estimativas indicam que os preços dobravam em intervalos muito curtos. Quando a situação saiu do controle, o Banco Central deixou de divulgar dados oficiais. A moeda, na prática, deixou de cumprir sua função.
Sem confiança no dinheiro nacional, a população passou a usar moedas estrangeiras. O dólar americano tornou-se referência nas transações do dia a dia. Em 2009, o Zimbábue abandonou o dólar local e autorizou formalmente o uso de divisas externas.
O encerramento oficial veio anos depois. Em 2015, a moeda foi desmonetizada. Na conversão final, 175 quatrilhões de dólares zimbabuanos valiam apenas US$ 5. A nota de 100 trilhões foi fixada em 40 centavos de dólar.
Fora de circulação, a cédula passou a ocupar outro espaço. Hoje, aparece em catálogos, acervos e coleções ao redor do mundo. Não pelo poder de compra que teve, mas pelo registro histórico que carrega.
Entre as grandes curiosidades da numismática contemporânea, poucas peças sintetizam de forma tão direta um período de descontrole monetário quanto a nota de 100 trilhões do Zimbábue. O número impresso no papel basta para contar a história.