O Banco Central da Líbia (CBL, na sigla em inglês) iniciou em 2025 uma ampla renovação do seu papel-moeda, com a introdução de novas cédulas de 5, 10 e 20 dinares líbios. O destaque da série é a nova nota de 20 dinares, feita de polímero e com sofisticados elementos de segurança. A figura central é o revolucionário Omar Al-Muktar, símbolo da resistência líbia contra o colonialismo italiano.
A nova série começou a circular em 27 de janeiro, com a nota de 20 dinares sendo lançada em 20 de março e a de 5 dinares uma semana depois. Todas trazem a assinatura do atual presidente do CBL, Naji Mohamed Issa Belqasem, que assumiu em setembro de 2024.
O principal objetivo da mudança é aumentar a segurança contra falsificações e prolongar a vida útil das cédulas. As novas notas substituem a série de 2013, que utilizava papel de algodão. Com o uso do polímero, o CBL pretende também reduzir os custos de reposição e melhorar a qualidade do dinheiro em circulação.
A decisão ocorre em um contexto de transição política e econômica. Após disputas internas e a recente substituição do presidente anterior em agosto de 2024, o banco central tenta afirmar sua autoridade. Ao colocar em circulação um novo padrão de moeda, a instituição reforça sua imagem de estabilidade em meio à fragmentação política.
Tecnologia de ponta e ícones nacionais
Produzida pela empresa britânica De La Rue, a nova cédula de 20 dinares apresenta múltiplas camadas de proteção. Entre os recursos, estão janelas transparentes com efeitos ópticos, microtextos visíveis sob luz ultravioleta e uma faixa holográfica que exibe a imagem de Omar Al-Muktar em três dimensões.
A nota também destaca símbolos nacionais. De um lado, a Mesquita Al-Atiq, em Awjila, uma das mais antigas do país. Do outro, uma escola feminina em Ghadames, sinalizando o valor da educação. A combinação entre tradição e modernidade busca reforçar a identidade nacional.
A nota de 5 dinares, também em polímero, mantém o desenho de uma versão anterior de 2021, com poucas alterações. Já a de 10 dinares permanece em papel, mas recebeu melhorias nos elementos de segurança.
Símbolo de resistência
Omar Al-Muktar, líder da resistência contra a ocupação italiana no início do século 20, foi executado em 1931, aos 73 anos. Sua figura sempre esteve presente na memória coletiva líbia, sendo retratada em notas desde os anos 1970 e em produções como o filme O Leão do Deserto.
A escolha de seu retrato para a nova nota de maior valor carrega forte carga simbólica. Em um país ainda marcado por divisões internas e instabilidade, o CBL aposta em um herói nacional como ponte entre passado e futuro. A ideia é unir a população em torno de um ícone comum e restaurar a confiança na moeda nacional.
Desafios persistem
Embora tecnicamente bem executada, a reforma monetária não resolve os entraves econômicos do país. O dinar continua vulnerável a fatores como a volatilidade do petróleo, disputas orçamentárias e a ausência de um governo central unificado.
Especialistas apontam que o sucesso das novas cédulas dependerá da adoção de reformas mais profundas. Entre elas, estão a diversificação da economia, o fortalecimento das instituições fiscais e o estímulo aos meios de pagamento eletrônicos.
O CBL já iniciou ações nessa direção, com incentivos à inclusão financeira e à modernização do sistema bancário. No entanto, a plena eficácia dessas medidas depende da superação das divisões políticas e da construção de consensos duradouros.
A nova série de cédulas, portanto, é tanto um avanço técnico quanto um gesto simbólico. Ela mostra a capacidade operacional do Banco Central em tempos de crise e busca fortalecer os laços entre a moeda e a identidade nacional. Em um cenário incerto, essa pode ser uma ferramenta crucial para reconstruir a confiança interna e sinalizar estabilidade ao exterior.