A moeda que incomodou o imperador: a peça da coroação e a morte de Dom Pedro I
Dom Pedro I morreu em 24 de setembro de 1834, em Queluz, Portugal, aos 35 anos. Fundador do Império do Brasil e figura central da independência, ele encerrou a vida em meio a disputas políticas e doenças. A data marca o fim de uma trajetória marcada por decisões drásticas, como a abdicação do trono brasileiro em 1831. Mas, além dos atos políticos, um objeto raro sintetiza a imagem que o imperador queria — e a que recusou: a peça da coroação.
Cunhada em 1822, a moeda de ouro de 6.400 réis foi idealizada para celebrar a aclamação de Dom Pedro como imperador do Brasil. Na primeira versão, ele aparece como um imperador romano: busto nu e coroa de louros. O retrato incomodou. Dom Pedro rejeitou a imagem e ordenou o fim da produção. Alegou que era imperador brasileiro, não romano.
Pouquíssimas moedas foram cunhadas antes do cancelamento: 64, segundo a literatura especializada. Hoje, menos de vinte são conhecidas. Por essa raridade, a peça é considerada um dos itens mais valiosos da numismática brasileira. Em leilões, já alcançou cifras próximas a meio milhão de dólares.
A recusa à representação clássica reforça a tentativa de Dom Pedro de forjar uma identidade nacional própria. Ele não queria repetir moldes europeus. A imagem de um imperador tropical, católico e político, e não apenas simbólico, prevaleceu.
Além da peça, outro símbolo da coroação foi a coroa imperial. Produzida com ouro e pedras preciosas, ela foi usada no ritual de 1º de dezembro de 1822. Após a proclamação da República, a joia desapareceu por décadas. Hoje, integra o acervo do Museu Imperial, em Petrópolis.
A morte de Dom Pedro, por muito tempo atribuída a diferentes causas, foi confirmada por documentos médicos como consequência da tuberculose. Seu coração, por desejo pessoal, está preservado na cidade do Porto, em Portugal. O corpo foi transferido para o Monumento à Independência, em São Paulo, onde repousa desde 1972.
Entre feitos, reviravoltas políticas e disputas por poder, a história de Dom Pedro I também se conta por meio de objetos. A peça da coroação, embora recusada, tornou-se ícone. Um símbolo não do que ele foi, mas do que se recusou a ser.