Só uma mãozinha? Entenda por que as moedas indianas mostram gestos em vez de rostos
Uma moeda de 1 rúpia com o polegar apontado para cima circula na Índia desde 2007. À primeira vista, parece apenas um “joinha”. Mas a imagem, parte de uma série chamada Nritya Mudra, representa algo bem mais profundo: o Shikhara Mudra, um gesto clássico da dança Bharatanatyam, símbolo de firmeza e ligação ao divino.
A série foi lançada pelo Banco Central da Índia (Reserve Bank of India) em colaboração com o Instituto Nacional de Design (NID), com apoio dos Ministérios das Finanças e da Cultura. O objetivo não era apenas estético: a ideia era criar moedas acessíveis a deficientes visuais, fáceis de diferenciar e que também expressassem a identidade cultural indiana.
Foram lançadas três moedas principais com gestos distintos:
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50 paise: Mushti Mudra (punho fechado), que simboliza força e prontidão;
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1 rúpia: Shikhara Mudra (punho com polegar erguido), gesto de resolução e estabilidade;
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2 rúpias: Kartari Mukha Mudra (indicador e médio estendidos), que expressa separação e contraste.
Todos esses gestos são comuns na dança clássica Bharatanatyam, um dos patrimônios artísticos mais antigos do país. Nessa linguagem gestual, conhecida como hasta mudras, cada posição da mão transmite emoções, histórias ou conceitos — sem necessidade de palavras.
A proposta inovadora, porém, não foi plenamente compreendida. Circulou na internet um gráfico que ridicularizava as moedas, sugerindo que os símbolos de mão eram apenas formas de contar números, enquanto outros países exibiam monumentos e líderes. A crítica desconsiderava a riqueza simbólica por trás do design.
Mesmo assim, as moedas Nritya Mudra deixaram sua marca. Embora hoje em menor circulação, são lembradas como um exemplo claro de como a moeda pode carregar cultura. São artefatos discretos, que mostram que o dinheiro também pode ensinar.
O gesto de mão em cada moeda não é aleatório. É um emblema vivo da herança indiana, que une a vida moderna a uma tradição milenar. Em vez de apenas pagar, o cidadão que segura essas moedas participa — ainda que inconscientemente — de uma narrativa cultural profunda, escrita com gestos.