Cédula de US$100.000: por que os EUA criaram uma nota que ninguém podia usar

Cédula de US$100.000: por que os EUA criaram uma nota que ninguém podia usar

A cédula de US$100 mil foi emitida entre dezembro de 1934 e janeiro de 1935, nos Estados Unidos, durante a Grande Depressão. Criada no governo do presidente Franklin D. Roosevelt, ela surgiu para facilitar grandes transferências bancárias depois que o país abandonou o padrão-ouro e proibiu a posse privada de ouro (Executive Order 6102, de 1933).

O contexto exigia novas soluções: a economia em colapso, a retenção de ouro pela população e a necessidade do governo de manter o controle das reservas impulsionaram o Tesouro norte-americano a buscar alternativas. Assim nasceu o chamado "Gold Certificate" de US$100 mil, destinado a operações internas entre o Tesouro e os bancos do Federal Reserve. Nunca foi emitido para circulação pública, nem poderia ser usado para pagar dívidas privadas.

A nota tinha uma função prática: representar o depósito de US$100 mil em ouro no Tesouro, sem a necessidade de transporte físico do metal. Funcionava como um instrumento contábil de altíssimo valor, exclusivo para transferências entre bancos centrais. Era uma solução temporária e restrita, criada para dar agilidade às operações financeiras de grande porte.

Visualmente, a cédula seguia o padrão das notas da época, medindo 152 x 66 mm. No anverso, trazia o retrato do presidente Woodrow Wilson e a certificação do valor em ouro. O verso, de cor laranja vibrante, exibia a inscrição "The United States of America – One Hundred Thousand Dollars" sobre um grande cifrão decorativo. As notas públicas costumam apresentar a marca "SPECIMEN", usada para fins educacionais.

Foram impressas cerca de 42.000 unidades. A maior parte foi destruída após cumprir sua função, restando hoje apenas exemplares desmonetizados em museus e acervos oficiais, como o Smithsonian Institution e os bancos do Federal Reserve de Nova York, Richmond e San Francisco. A posse particular é ilegal até hoje: a cédula foi criada exclusivamente para o governo e não pode ser comercializada ou mantida por cidadãos.

Apesar de tecnicamente ser considerada "legal tender", a nota de US$100 mil só era válida dentro do sistema oficial. Para o público comum, nunca teve utilidade prática — e nem chegou a ser vista em circulação. Por isso, não aparece em leilões, nem em coleções particulares, e se tornou uma peça quase lendária na história da moeda americana.

A nota de US$100 mil foi a maior denominação já impressa pelo governo dos EUA. Nem mesmo projetos internos previam cédulas de valor maior, como o rumor de uma nota de US$1 milhão, que nunca existiu para uso prático. A escolha de Wilson para ilustrar a cédula também chamou atenção: foi a única vez que um presidente falecido antes da emissão estampou uma nota de tão alto valor.

Enquanto a cédula de US$100 mil ficou restrita ao governo, outras notas de grande valor circularam entre o público, como as de US$10.000 (com Salmon P. Chase), US$5.000 (James Madison), US$1.000 (Grover Cleveland) e US$500 (William McKinley). Todas deixaram de ser emitidas em 1945 e foram oficialmente retiradas de circulação em 1969, com o avanço das transferências eletrônicas. Hoje, restam apenas alguns exemplares em coleções e museus.

Atualmente, a maior cédula em circulação nos Estados Unidos é a de US$100. As notas de alto valor pertencem apenas ao passado e aos acervos históricos, marcando uma época em que dinheiro em papel precisava acompanhar o peso das grandes transações.

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