Por que o real traz uma figura feminina no anverso? saiba quem é a mulher retratada nas notas do real
O rosto mais visto do Brasil não está na televisão, nas redes sociais ou nos palanques. Ele está na carteira de todo mundo. A mulher que aparece nas notas do real acompanha compras, trocos e pagamentos desde 1994. É familiar, mas continua envolta em dúvida. Quem é ela? A resposta surpreende: não é ninguém — e, ao mesmo tempo, representa todo o País.
A figura é a Efígie da República, alegoria criada para simbolizar o Estado brasileiro desde o fim do Império. O uso de uma mulher como emblema político segue tradição adotada por repúblicas modernas, sobretudo pela França. Foi lá que Marianne se tornou o ícone da Revolução de 1789 e o símbolo mais reconhecido da liberdade. A imagem ganhou força em 1830, com a pintura A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix, que retrata uma mulher conduzindo os franceses em levante contra o absolutismo. O quadro transformou a figura feminina em representação universal da luta por direitos.
O Brasil adotou esse modelo em 1889, após a Proclamação da República. O novo regime precisava retirar das moedas o retrato de Dom Pedro II e criar um símbolo que marcasse a mudança política. A solução foi uma alegoria feminina, de traços clássicos e sem vínculo com pessoas reais. Ela representava ruptura com o passado imperial e, ao mesmo tempo, buscava transmitir estabilidade em meio às incertezas do período.
A efígie circulou em moedas e selos por décadas. Quando o real foi lançado, em 1994, o Banco Central decidiu mantê-la no anverso de todas as notas. A escolha reforçava a continuidade institucional da República e ajudava a fixar uma identidade visual para o novo padrão monetário. Em 2010, a imagem passou por ajustes gráficos com a criação da segunda família do real, mas preservou o sentido original.
A ausência de um rosto identificável alimentou comparações ao longo dos anos. A atriz Tônia Carrero foi uma das mais citadas, embora o Banco Central negue qualquer inspiração. O desenho não tem modelo conhecido. Não é retrato, mas conceito.
A mulher das cédulas, portanto, não tem nome, biografia ou origem específica. Ela simboliza o ideal republicano — a promessa de liberdade, cidadania e igualdade que o País tenta preservar em cada nota que circula. É a face permanente de um projeto coletivo que atravessou reformas, crises e mudanças, e continua presente na palma da mão de todos os brasileiros.