Se no Natal inglês a moeda vai ao pudim, no Ano novo da Grécia ela vai ao pão!
Na Grécia e no Chipre, o Ano Novo começa com um ritual simples e simbólico. Um pão ou bolo é levado à mesa com uma moeda escondida na massa. O costume, conhecido como vasilopita, marca o dia 1.º de janeiro e associa alimento, fé e metal a um desejo coletivo de sorte e prosperidade.
A prática lembra outra tradição europeia, descrita aqui no texto sobre o Natal inglês, em que um sixpence de prata é colocado no Christmas pudding. Em ambos os casos, a moeda deixa de circular como dinheiro e assume função ritual. O significado muda conforme a cultura, mas a lógica é a mesma: quem encontra o metal carrega bons presságios para o ano que começa.
A vasilopita é preparada antes do Ano Novo. A moeda é inserida na massa ainda crua. No momento do corte, as fatias seguem uma ordem definida. Algumas são destinadas simbolicamente a Cristo, à casa ou a figuras protetoras. As demais vão para os presentes, do mais velho ao mais novo. O achador da moeda é visto como o afortunado do período.
A tradição é ligada a Basílio de Cesareia, bispo do século IV venerado pela Igreja Ortodoxa. Segundo a narrativa popular, ele teria recolhido moedas e joias dos moradores para pagar um resgate exigido por um inimigo. O ataque não ocorreu. Para devolver os bens sem constranger ninguém, Basílio teria escondido os objetos em pães distribuídos à população. Cada família, por milagre, recebeu o que havia doado.
Historiadores apontam que o costume também dialoga com rituais mais antigos, anteriores ao cristianismo. Festas de passagem de ano, como as da Roma antiga, já usavam objetos escondidos em alimentos para simbolizar renovação, sorte e igualdade temporária entre os participantes. Com o tempo, a Igreja incorporou práticas semelhantes e lhes deu novos sentidos.
Do ponto de vista numismático, a vasilopita chama atenção pelo tipo de moeda usado. Em séculos passados, não era incomum empregar peças de maior valor, inclusive moedas de ouro. O metal reforçava a ideia de prosperidade real, não apenas simbólica. Hoje, utilizam-se moedas correntes, quase sempre embaladas por higiene, mas o prestígio do achado permanece.
O ritual não se limita às casas. Igrejas, associações, clubes e empresas também cortam a vasilopita nas primeiras semanas do ano. Em muitos casos, a moeda vem acompanhada de um prêmio em dinheiro ou de um presente, o que atualiza a tradição sem alterar seu sentido central.
Assim como no pudim natalino inglês, a moeda da vasilopita revela um aspecto pouco lembrado da história do dinheiro. Fora do mercado, ela vira amuleto. Não compra nem paga. Apenas simboliza a esperança de que o novo ano comece melhor. Em culturas distintas, a mesa cumpre o mesmo papel: transformar metal em promessa.