Discreta e quase esquecida, a moeda de 1 centavo ainda é reconhecida como dinheiro em circulação no Brasil. Na prática, porém, desapareceu dos caixas e bolsos há quase duas décadas. Fabricada pela última vez em 2004, ela deixou de ter função no comércio sem que o Banco Central precisasse decretar o fim de sua validade.
O desuso não veio por lei, mas por desinteresse. A inflação, o custo elevado de produção e a pouca utilidade no troco tornaram a menor unidade monetária nacional um item sem espaço na economia atual.
Do Valor Perdido à Estabilidade do Real
Durante os anos 1980 e o início dos 1990, o Brasil enfrentou inflação crônica. Em 1993, o índice anual chegou a 2.477%. O dinheiro perdia valor diariamente, e moedas de baixo valor não tinham propósito.
Com o Plano Real, lançado em 1994, a economia ganhou estabilidade, e as moedas voltaram a circular. A de 1 centavo foi criada como parte da nova estrutura monetária, mas sua relevância durou pouco. Mesmo com a inflação controlada, o tempo corroeu seu poder de compra e ela deixou de representar valor real.
Quando Produzir Custava Mais do Que Valia
A fabricação da moeda se tornou um mau negócio. Segundo o Banco Central, cada unidade custava cerca de R$ 0,09 para ser produzida — nove vezes mais do que o valor de face. Em larga escala, o prejuízo era inevitável.
O problema se estendia a outras denominações. Cunhar uma moeda de 5 centavos, por exemplo, custava R$ 0,12. A manutenção das peças de baixo valor passou a representar um gasto injustificável.
Troco Que Ninguém Quer
Além do custo, havia o incômodo. Bancos e comerciantes enfrentavam dificuldade para manter o troco em dia. Contar, armazenar e repassar moedas pequenas consumia tempo e espaço.
A legislação, porém, exige que o troco seja exato. Sem moedas de 1 centavo, a regra obriga os estabelecimentos a arredondar os preços para baixo — cobrar a mais é infração ao Código de Defesa do Consumidor. O resultado é perda para o comércio e desconforto para o consumidor.
O Real Que Encolheu
Em 1994, R$ 1 comprava dez pães ou quase dois litros de gasolina. Trinta anos depois, o pão custa em média R$ 1,14, e o litro da gasolina passa dos R$ 6. A inflação acumulada no período supera 650%.
Com isso, a moeda de 1 centavo perdeu totalmente seu poder de compra. O que antes valia uma fração do pão, hoje não compra nem um grão de farinha.
Moeda Oficial, Mas Fora de Circulação
Apesar de ainda ter curso legal, a moeda vive um limbo. O Banco Central nunca revogou seu uso, mas ela desapareceu por conta própria. Comerciantes não a aceitam, consumidores não a pedem e bancos não a distribuem. O mercado, na prática, decretou sua extinção.
Um Objeto Histórico
Fora das transações, a moeda ganhou outro valor. Na numismática — o estudo e colecionismo de moedas —, tornou-se uma peça de interesse histórico.
As primeiras edições, datadas entre 1994 e 2004, registram o nascimento do Real e o fim da hiperinflação. Algumas tiragens, como as de 1999 e 2000, são raras e podem valer múltiplos de seu valor de face, dependendo da conservação.
Para museus e pesquisadores, a moeda de 1 centavo é um símbolo de transição. Ela reflete o esforço de reconstrução econômica do país e, ao mesmo tempo, a passagem do dinheiro físico a um tempo em que o troco já é digital.