Contém spoiler
Em meio à poeira, traições e tiros do faroeste italiano, uma moeda de prata roubou a cena. No filme O Dólar Furado (Un Dollaro Bucato, 1965), dirigido por Giorgio Ferroni, o objeto mais valioso não é o ouro nem o revólver — é um dólar de prata atravessado por uma bala. O projétil fura o metal, salva o herói e transforma uma simples moeda em símbolo de destino e redenção.
A trama se passa na segunda metade do século 19. Gary O’Hara (Giuliano Gemma), ex-capitão do Exército Confederado, retorna para casa após a Guerra Civil Americana (1861–1865). Em busca de trabalho, aceita caçar o fora-da-lei “Black Jack”, sem saber que o criminoso é seu próprio irmão, dado como morto na guerra. No confronto, Gary comete o erro fatal. Antes de morrer, o irmão entrega-lhe um dólar de prata, peça que mais tarde o salvará de um disparo certeiro.
A moeda por trás da lenda
Em meio à poeira, traições e tiros do faroeste italiano, uma moeda de prata roubou a cena. No filme O Dólar Furado (Un Dollaro Bucato, 1965), dirigido por Giorgio Ferroni, o objeto mais valioso não é o ouro nem o revólver — é um dólar de prata atravessado por uma bala. O projétil fura o metal, salva o herói e transforma uma simples moeda em símbolo de destino e redenção.
A trama se passa na segunda metade do século 19. Gary O’Hara (Giuliano Gemma), ex-capitão do Exército Confederado, retorna para casa após a Guerra Civil Americana (1861–1865). Em busca de trabalho, aceita caçar o fora-da-lei “Black Jack”, sem saber que o criminoso é seu próprio irmão, dado como morto na guerra. No confronto, Gary comete o erro fatal. Antes de morrer, o irmão entrega-lhe um dólar de prata, peça que mais tarde o salvará de um disparo certeiro.
O “dólar furado” deixa de ser moeda e passa a ser amuleto, lembrança e prova de uma história marcada por culpa, honra e sobrevivência.
A moeda por trás da lenda
O design visível no pôster e nas cenas do filme corresponde claramente ao Morgan Dollar, cunhado nos Estados Unidos a partir de 1878.
Há, porém, uma anacronia evidente: a história de O Dólar Furado se passa logo após o fim da Guerra Civil Americana (1865) — mais de uma década antes do início da cunhagem desse modelo. Mesmo assim, a escolha é compreensível. O Morgan é, até hoje, o símbolo máximo do dólar de prata do Velho Oeste, o tipo de peça que o público identifica de imediato como a “moeda americana por excelência”.
Suas especificações técnicas ajudam a sustentar a verossimilhança da trama.
O Morgan Dollar pesa 26,73 gramas, contém 90% de prata e mede 38,1 milímetros de diâmetro. É uma peça robusta, com massa e densidade suficientes para absorver parte da energia de um projétil — plausibilidade física essencial para a cena em que a moeda intercepta a bala e salva o protagonista.
A escolha do Morgan, ainda que fora do período histórico retratado, reforça a ideia de autenticidade. Nenhuma outra moeda americana de prata tem um apelo visual tão reconhecível. O espectador vê o disco brilhante, sente o peso simbólico do metal e entende, sem explicações, que aquele é o “dólar de verdade”.
Em contraste com as moedas fiduciárias modernas, o dólar de prata do século 19 possuía valor intrínseco, determinado pela quantidade de metal precioso. Essa substância física conferia ao dinheiro um sentido de permanência e realidade — exatamente o oposto da fragilidade simbólica que o filme antecipa.
Lançado em 1965, O Dólar Furado chegou pouco antes de o mundo abandonar o padrão-ouro.
O paralelo é inevitável: na tela, a bala atravessa o metal e o esvazia de substância; na economia real, o dólar perderia seu lastro em prata e ouro poucos anos depois.
