A Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em 9 de julho, foi um movimento armado liderado por São Paulo contra o governo de Getúlio Vargas. O estado exigia a convocação de uma Assembleia Constituinte e o retorno do regime constitucional, rompido em 1930 com a Revolução liderada por Vargas. Esse foi o maior conflito armado da história brasileira no século 20, reunindo tropas, estratégias e, sobretudo, um esforço coletivo para sustentar o movimento.
ACERVO GILBERTO FERNANDO TENOR/ SOCIEDADE NUMISMÁT
O Papel Do Dinheiro Paulista
Com o isolamento econômico imposto pelo governo federal, São Paulo enfrentou um colapso financeiro. O governo Vargas retirou o dinheiro federal de circulação no estado, obrigando as lideranças paulistas a buscar alternativas para financiar a guerra e manter a economia em funcionamento.
Em resposta, o governador Pedro de Toledo autorizou a emissão de papel-moeda estadual, batizado de "dinheiro paulista". Essa iniciativa visava não apenas suprir a falta de moeda em circulação, mas também reforçar o espírito de resistência.
O dinheiro foi lastreado pelo ouro arrecadado na campanha "Ouro para o Bem de São Paulo", em que a população doou joias e outros bens preciosos. A campanha mobilizou milhares de pessoas, simbolizando a união da sociedade paulista em torno da causa constitucionalista.
Design E Simbolismo
Embora o papel-moeda tenha sido produzido em apenas cinco dias, seu design foi cuidadosamente planejado. Como explica o pesquisador Ricardo Della Rosa, as cédulas precisavam comunicar que "São Paulo não era separatista", rebater a narrativa de Vargas e reforçar a ideia de que o estado lutava por princípios nacionais.
Por isso, figuras históricas de relevância nacional foram escolhidas para estampar as notas. Entre elas estavam:
- Floriano Peixoto (1839-1895), militar e político, primeiro vice-presidente e segundo presidente do Brasil;
- Duque de Caxias (1803-1880), símbolo do Exército Brasileiro e herói nacional;
- Ruy Barbosa (1849-1923), jurista e diplomata, conhecido como "Águia de Haia";
- Marquês de Tamandaré (1807-1897), almirante da Marinha Brasileira;
- Almirante Barroso (1804-1882), líder na Batalha do Riachuelo;
- Bandeirantes Fernão Dias Paes Leme (1608-1681) e Domingos Jorge Velho (1641-1705), símbolos do pioneirismo paulista.
As cédulas também incluíam elementos gráficos que exaltavam valores republicanos e históricos, como os bandeirantes, reinterpretados como emblemas da vontade democrática de São Paulo.
ACERVO GILBERTO FERNANDO TENOR/ SOCIEDADE NUMISMÁT
Circulação E Sabotagem
As cédulas começaram a circular em 20 de julho de 1932, mas enfrentaram desafios logo de início. Falsificações surgiram rapidamente, e há relatos de que o governo de Vargas teria incentivado essa prática para desacreditar a moeda paulista.
Técnicas improvisadas, como a adição de partículas de lã colorida ao papel, foram empregadas para dificultar as cópias. Mesmo assim, falsificações apareceram, levando técnicos da Companhia Melhoramentos, sob escolta policial, a montar postos no centro da cidade para verificar a autenticidade das notas.