Numismática na Bíblia: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Numismática na Bíblia: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

Uma das moedas mais emblemáticas da Bíblia é o denário de Tibério, também conhecido como “Tribute Penny”. Produzido em prata, o exemplar ficou famoso por protagonizar uma das passagens mais conhecidas dos Evangelhos, quando Jesus é desafiado sobre o pagamento de tributos ao Império Romano.

O episódio, relatado em Mateus 22:19-21, Marcos 12:13-17 e Lucas 20:20-26, ocorreu durante os últimos dias de Jesus em Jerusalém. Fariseus e herodianos, dois grupos com interesses políticos distintos, uniram-se numa tentativa de armadilha. A pergunta era direta: “É lícito pagar o imposto a César ou não?” Se dissesse que sim, Jesus correria o risco de perder o apoio popular. Se dissesse que não, poderia ser acusado de rebelião contra Roma.

A resposta veio após um gesto simples, mas carregado de significado. Jesus pediu que lhe mostrassem a moeda usada para o tributo. Quando lhe apresentaram o denário, ele perguntou: “De quem é esta imagem e esta inscrição?” Após a resposta óbvia — “De César” —, Jesus encerrou o debate com a frase que atravessou os séculos: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

Como era o denário de Tibério?

A moeda em questão tinha, no anverso, a cabeça laureada do imperador Tibério, voltada para a direita. A inscrição ao redor reforçava o poder do governante: “Tibério César, filho do divino Augusto”. O texto fazia referência ao status de Augusto como deus, uma prática comum na propaganda política romana.

No reverso, a figura feminina sentada é geralmente identificada como Lívia, mãe de Tibério, representada como a deusa Pax, símbolo da paz. Ela segura um cetro na mão esquerda e um ramo de oliveira na direita. A cadeira apresenta detalhes ornamentais e um pequeno banquinho aparece abaixo de seus pés. A inscrição “Pontifex Maximus” reforça o título de Sumo Sacerdote, atribuído ao imperador.

Circulação na Judeia e impacto religioso

O denário era amplamente usado em todo o Império Romano, incluindo a Judeia, especialmente após a região ter sido formalmente anexada a Roma, em 6 d.C. A moeda era exigida para o pagamento do census, um imposto per capita cobrado de cada adulto.

Para os judeus, o uso da moeda trazia um dilema moral. Além de representar um sistema opressor, o denário exibia a imagem de um homem que era chamado de “filho de deus”, o que contrariava os princípios monoteístas e a proibição de imagens estabelecida na Lei judaica.

A circulação do denário coexistia com outras moedas na região. As autoridades locais cunhavam suas próprias peças, geralmente de bronze, como o prutá, sem imagens humanas, respeitando os preceitos religiosos. Já o meio shekel de Tiro era usado especificamente para o imposto do Templo, por conter o teor de prata exigido pela lei judaica, apesar de também trazer representações consideradas idólatras.

Valor e poder de compra

O denário equivalia ao salário diário de um trabalhador braçal no século I d.C. Em termos práticos, um denário podia pagar um dia de serviço agrícola, como mostra a parábola dos trabalhadores da vinha, relatada por Mateus. Também servia de referência para avaliar outros bens, como uma ânfora de azeite ou um par de pombas, itens comuns nas ofertas religiosas da época.

No episódio da unção de Jesus com um perfume caro, por exemplo, a indignação dos discípulos recaiu sobre o gasto equivalente a 300 denários — o salário de um ano inteiro de trabalho.

Um símbolo de poder e de fé

Mais do que uma peça de prata, o denário de Tibério tornou-se um símbolo da tensão entre o poder terreno e a obediência a Deus. Ao mesmo tempo que servia como um instrumento de dominação econômica e ideológica por parte de Roma, a moeda foi usada por Jesus como uma lição sobre a separação entre as obrigações civis e a fidelidade espiritual.

Hoje, o denário de Tibério é objeto de estudo para historiadores, numismatas e estudiosos da Bíblia. Exemplar comum entre colecionadores, a moeda segue como testemunho físico de um dos momentos mais citados da história cristã, quando a fé e a política se cruzaram em uma simples pergunta sobre um tributo.

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  • user por Gilberto da Silva Motta

    Tenho várias moedas inclusive de 1945 (algumas) tenho curiosidade pela história

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  • user por PAULO

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