Casa de Fundição de Ouro de Iguape: O marco esquecido da mineração no Brasil colonial

Casa de Fundição de Ouro de Iguape: O marco esquecido da mineração no Brasil colonial

 No coração do Vale do Ribeira, a antiga Casa de Fundição de Ouro de Iguape guarda um dos capítulos menos conhecidos da história econômica brasileira. Criada pela Coroa Portuguesa na primeira metade do século XVII, a instituição foi uma das primeiras no País dedicada à fundição de ouro e ao recolhimento do chamado quinto real, imposto que correspondia a 20% de todo o metal extraído.

Localizada na cidade de Iguape, a Casa teve como missão centralizar a fundição do ouro, combater o contrabando e garantir a arrecadação fiscal. Hoje, o prédio abriga o Museu Histórico e Arqueológico da cidade.

Origem da mineração e a instalação da Casa

Os primeiros registros de ouro na região datam de 1551 e 1552. A atividade se intensificou por volta de 1560, com as primeiras expedições conhecidas como bandeiras. O metal era encontrado em diversos pontos do Rio Ribeira e de seus afluentes, com destaque para Xiririca (atual Eldorado), Apiaí e Iporanga.

Para organizar e controlar a exploração, a Coroa instalou a Casa de Fundição em Iguape por volta de 1630. Conhecida como "Casa de Officina Real da Fundição do Ouro", a unidade recebia o ouro previamente pesado e registrado na cidade de Registro, antes de submetê-lo ao processo de fundição e tributação.

Estrutura e funcionamento

O prédio foi construído em taipa de pedra, técnica típica da época. No pavimento superior, ficava a residência do intendente, responsável pela administração. No térreo, ocorriam a pesagem, o registro e a fundição do ouro. Oficinas externas serviam de apoio ao trabalho de purificação do metal.

O processo seguia etapas rigorosas:

  • Recepção: O ouro bruto era pesado e registrado.

  • Purificação: Em fornos aquecidos com carvão vegetal, impurezas como ferro e cobre eram retiradas.

  • Moldagem: O ouro fundido era vertido em moldes de ferro e resfriado até formar barras.

  • Selo Real: As barras recebiam um cunho oficial, comprovando o pagamento do quinto.

Personagens e administração

O primeiro provedor da Casa de Fundição foi Manoel dos Reis, que também exercia a função de almotacel (inspetor de pesos e medidas). Figura de destaque na administração local, coube a ele garantir a regularidade do processo e o cumprimento das normas estabelecidas pela Coroa.

Declínio da mineração e novos usos para o prédio

A Casa operou até meados do século XVIII. Em 1737, o prédio passou por reformas. Na década de 1760, com a queda na produção de ouro, as atividades foram encerradas. Por volta de 1820, o imóvel estava desativado e foi reaproveitado como cadeia pública e, posteriormente, como quartel.

Desde 1970, o edifício abriga o Museu Municipal de Iguape, preservando a memória de sua função original.

Evidências arqueológicas

Estudos conduzidos por arqueólogos identificaram vestígios de fornos, escórias (resíduos da fundição) e ferramentas no local. Essas descobertas confirmam a função aurífera da construção.

Levantamentos históricos, como os realizados por Waldemiro Fortes e Ernesto Young, apontam que, no auge da produção, cerca de 53,7 quilos de ouro passavam pela Casa anualmente.

Um marco da história fiscal e mineradora

A Casa de Fundição de Iguape representa um dos primeiros esforços sistemáticos da Coroa Portuguesa para controlar a produção de ouro no Brasil. Embora menos conhecida que as estruturas similares de Minas Gerais, sua importância histórica é reconhecida por estudiosos e preservada na memória local.

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