A Bulgária será o 21º país da União Europeia a adotar o euro, a partir de 1º de janeiro de 2026. A decisão foi formalizada pelo Conselho da União Europeia em 8 de julho e marca a conclusão de um processo técnico e político que durou quase duas décadas. A mudança representa mais do que uma simples troca de moeda: oficializa a euroização de facto mantida pelo regime de currency board (lastro cambial) adotado desde 1999.
Decisão estratégica com apoio institucional europeu
A adesão foi aprovada após uma solicitação especial das autoridades búlgaras, que pediram um relatório de convergência antecipado à Comissão Europeia e ao Banco Central Europeu (BCE). O pedido foi feito em fevereiro, com o objetivo de garantir a entrada no início de 2026. Os principais órgãos da UE – como o Eurogrupo, o ECOFIN, o Parlamento Europeu e o BCE – deram pareceres positivos à entrada do país na área do euro.
Foram adotados três atos jurídicos fundamentais: a decisão sobre a adoção do euro e dois regulamentos que tratam da introdução da moeda única e da taxa de conversão. O valor foi fixado em 1 euro para 1,95583 levs, mantendo a paridade vigente no regime cambial búlgaro há mais de 20 anos.
Histórico de atrasos e retomada do compromisso europeu
Membro da União Europeia desde 2007, a Bulgária entrou no Mecanismo de Taxas de Câmbio II (MTC II) em julho de 2020. A adesão plena ao euro era prevista inicialmente para 2024, mas foi adiada devido a crises políticas e dificuldades em controlar a inflação. Propostas de referendo sobre o tema foram rejeitadas pelo parlamento, refletindo resistência interna. Ainda assim, o governo manteve o compromisso e retomou o plano de forma mais assertiva em 2025.
Critérios cumpridos com folga e estabilidade consolidada
Segundo o Relatório de Convergência de 2025, a Bulgária cumpre todos os critérios de Maastricht. A inflação média de 12 meses foi de 2,7%, abaixo do limite de 2,8%. O déficit fiscal de 3,0% e a dívida pública de 24,1% do PIB também estão dentro dos parâmetros. A taxa de juros de longo prazo ficou em 3,9%, bem abaixo da média de referência de 5,1%.
A participação contínua no MTC II e o histórico de estabilidade do lev frente ao euro indicam que a economia búlgara já está funcionalmente integrada à área do euro. A supervisão direta dos bancos búlgaros pelo BCE, iniciada em 2020, reforça essa integração.
Benefícios esperados: mais investimento, menos custos
Entre os principais ganhos esperados estão a eliminação dos custos de câmbio, maior previsibilidade para negócios e aumento do investimento estrangeiro. Cerca de metade das exportações búlgaras já se destinam à zona do euro. O acesso a crédito externo também tende a se tornar mais barato, e agências de risco já indicaram possível elevação na classificação de crédito do país.
Além disso, a Bulgária terá direito a voto no Conselho do BCE e participará ativamente no Eurogrupo, ampliando sua influência na política econômica da União.
Desconfiança popular e resposta institucional
Apesar dos ganhos econômicos, a população segue dividida: 46,8% são contra a adoção do euro, segundo pesquisas locais. O temor de aumento de preços é o principal motivo. Para responder a essas preocupações, o governo búlgaro lançou um plano nacional de transição, com exibição obrigatória de preços em lev e euro, monitoramento de preços e campanhas de informação pública.
A exibição dupla será obrigatória por mais de um ano, a partir de agosto de 2025. A Comissão de Proteção do Consumidor e o Banco Nacional da Bulgária atuarão para fiscalizar o processo.
Experiência de outros países oferece lições valiosas
Casos recentes, como o da Croácia em 2023 e dos Estados Bálticos, servem de referência. Todos já possuíam forte ligação cambial com o euro antes da adesão formal. Medidas preventivas, como monitoramento de preços e kits de moedas, ajudaram a mitigar impactos negativos e facilitar a aceitação popular.
Preparativos operacionais em andamento
O Banco Nacional da Bulgária já finalizou os desenhos das novas moedas, que trarão símbolos nacionais como o Cavaleiro de Madara. A cunhagem começa após a aprovação final do BCE. Kits de iniciação estarão disponíveis ainda em 2025.
Sistemas de contabilidade, caixas eletrônicos e softwares fiscais estão sendo atualizados para a nova moeda. Durante o mês de transição, pagamentos em lev ainda serão aceitos, mas caixas eletrônicos fornecerão apenas euros. Trocas sem custo serão oferecidas em bancos e correios até junho de 2026, e por tempo indeterminado no Banco Central.