Em 1977, um tratorista trabalhava em uma fazenda no município de Rio Formoso, em Pernambuco, quando ouviu o som metálico vindo da terra. Parou a máquina, desceu e, ao escavar, encontrou um vaso de barro pesado e coberto de barro seco. Dentro, havia moedas de ouro e prata, guardadas havia séculos — ou assim parecia.
A notícia se espalhou. As peças chamavam atenção pela semelhança com as antigas moedas holandesas cunhadas no período da ocupação do Nordeste, no século XVII. Havia soldos e florins com inscrições em latim, o nome Brasil gravado no verso e o símbolo da Companhia das Índias Ocidentais.
À época, uma moeda autêntica de 12 soldos de prata era uma das maiores raridades da numismática brasileira. Só três exemplares verdadeiros eram conhecidos, e cada um valia o equivalente a R$ 1,8 milhão. A descoberta de uma botija cheia dessas peças parecia um milagre histórico — e financeiro.
As moedas foram encaminhadas ao Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Lá, uma funcionária comparou uma das peças com um exemplar original e, diante da semelhança, chancelou a coleção como autêntica. A validação oficial alimentou o entusiasmo. Livros foram escritos, estudos publicados, e a “botija de Rio Formoso” ganhou fama entre colecionadores e historiadores.
Mas o encanto não durou.
O especialista Kurt Prober, respeitado estudioso da história monetária brasileira, decidiu examinar as moedas com mais rigor. Ao analisar as ligas metálicas, descobriu que os elementos químicos das peças não existiam nas cunhagens do século XVII. Eram ligas modernas, produzidas com metais que denunciavam a falsificação.
O veredito foi claro: todas as moedas da botija eram falsas. Nenhuma havia sido cunhada na era holandesa. As peças, embora belas, eram réplicas recentes, fabricadas com ouro de baixa pureza e teor metálico inferior ao das originais. O suposto tesouro de Rio Formoso transformou-se em uma fraude monumental.
O episódio abalou o meio numismático. Colecionadores que haviam pago caro pelas moedas se viram enganados. Desde então, qualquer peça com a inscrição “Rio Formoso” passou a ser reconhecida como cópia. O nome se tornou sinônimo de ilusão dourada.
Décadas depois, o pesquisador e colecionador Fernando Ganin, do canal Vivendo a História, resgatou o caso em sua série História das Moedas do Brasil. Em seu relato, ele comparou o escândalo da década de 1970 com o fenômeno atual das moedas de real com supostos “erros de cunhagem”, vendidas na internet por valores altos sem comprovação de autenticidade.
“Na década de 1970, falsificaram o passado; agora, inventam raridades no presente”, disse Ganin.
A história da botija de Rio Formoso continua a servir de alerta. O brilho do metal pode enganar, mas a verdade, como o ouro puro, resiste ao tempo.
Para conhecer todos os detalhes dessa descoberta e entender por que ela marcou a história da numismática brasileira, assista ao vídeo completo no canal Vivendo a História: