(Image credit: York Museums Trust Staff; Wikimedia Commons; (CC BY-SA 4.0 DEED))
Um tesouro de 1,1 mil anos descoberto em Bedale, no norte da Inglaterra, revelou que parte da prata acumulada por vikings veio do Oriente Médio, por meio de rotas comerciais de longa distância. A análise geológica identificou que cerca de um terço dos lingotes presentes no chamado Bedale Hoard foi produzido a partir de moedas islâmicas cunhadas no atual Irã e no Iraque, então parte do Califado Abássida.
O achado, feito por dois caçadores de metais em 2012, reúne 48 peças de prata e ouro, entre joias, fragmentos e 29 lingotes. Avaliado em cerca de £ 51,6 mil, o conjunto inclui ainda um pomo de espada de ouro, colares e anéis com influências anglo-saxãs, escandinavas e russas. Segundo os pesquisadores, o conteúdo mostra que os vikings não dependiam apenas de saques a mosteiros e cidades ricas, mas integravam um sistema econômico amplo, que combinava pilhagem, tributos e comércio.
O estudo, coordenado por Jane Kershaw, da Universidade de Oxford, revelou que a prata oriental chegou à Escandinávia e à Inglaterra pelo Austrvegr, rota que cruzava rios da Rússia e ligava o Báltico ao mundo islâmico. Em troca, os vikings ofereciam peles, âmbar, armas e escravos. Esse metal estrangeiro era muitas vezes derretido e fundido com prata ocidental para criar novas peças, adaptadas ao gosto e às necessidades locais.
Especialistas apontam que o sistema viking funcionava em uma “economia de peso”, na qual a prata era valorizada pela massa e não pela cunhagem. Isso explica o uso de hacksilver — fragmentos de moedas, joias e lingotes — que circulavam como meio de pagamento. A prática permitia integrar diferentes fontes de riqueza em um único padrão econômico.
O Bedale Hoard também ilustra o alcance global das redes vikings, que conectavam a Escandinávia à Ásia Central, ao Império Bizantino e ao Mediterrâneo ocidental. Cidades como Hedeby (Dinamarca), Birka (Suécia) e Dublin (Irlanda) eram pontos estratégicos para redistribuir mercadorias e arrecadar impostos.
Para Kershaw, a descoberta reforça que Bedale, hoje uma pequena cidade agrícola, esteve inserida, no século 9, em uma economia eurasiática em expansão. “Eles não apenas extraíam riqueza da população local, mas também traziam riqueza quando se estabeleciam”, afirma.
O tesouro de Bedale, agora parte do acervo do Yorkshire Museum, redefine a imagem popular dos vikings, mostrando que eram tanto guerreiros temidos quanto comerciantes habilidosos.