A moeda que cruzou séculos e oceanos para contar a origem da Inglaterra — e voltou para casa

A moeda que cruzou séculos e oceanos para contar a origem da Inglaterra — e voltou para casa

Mais de 1.130 anos após ser cunhada na cidade de Exeter, no sudoeste da Inglaterra, uma pequena moeda de prata finalmente voltou ao seu lugar de origem. Com ela, não retornou apenas um objeto antigo, mas também um símbolo de identidade nacional, renascimento urbano e resistência contra invasores.

Essa é a história da moeda de Alfredo, o Grande (Alfred the Great), um dos reis mais importantes da história britânica, e do artefato que carrega, em poucas gramas de prata, o embrião da ideia de “Inglaterra”.

Um rei medieval... mas atual

Você nunca ouviu falar em Alfredo, o Grande? Não se preocupe. Embora seja uma figura central na história do Reino Unido, ele ainda é pouco conhecido fora de lá. Alfredo reinou entre os anos 871 e 899 e governava um dos reinos anglo-saxões chamado Wessex, em um período em que a Inglaterra nem existia como país.

Foi sob o comando dele que o território começou a se organizar contra os ataques vikings, que devastavam vilarejos e cidades. Mas Alfredo não foi apenas um líder militar. Ele criou leis, fortaleceu cidades, incentivou a educação e foi um dos primeiros monarcas europeus a defender o uso da língua local (o inglês antigo) no lugar do latim.

Ou seja, foi um dos fundadores, na prática, da ideia de uma Inglaterra unificada, com justiça, cultura, idioma próprio e um sistema político organizado.

A moeda que mostra tudo isso

Entre 895 e 899, Alfredo mandou cunhar moedas com a inscrição “AELFRED REX SAXONUM” (Alfredo, Rei dos Saxões) e, no verso, “EXA”, a forma mais antiga conhecida do nome Exeter. Essa sigla representa a primeira vez que a cidade aparece registrada em um objeto físico.

A escolha de Exeter para abrigar uma casa da moeda foi estratégica: era uma cidade abandonada desde o fim do Império Romano. Ao recuperar suas muralhas e traçar um novo plano urbano, Alfredo transformou o local em um polo de defesa e administração — um passo essencial na reconstrução do reino.

Essa moeda representa exatamente isso: o esforço para reerguer um país, afirmar a autoridade real e criar uma identidade nacional.

Do fundo da terra ao museu

A peça foi encontrada em 1840 no meio de um gigantesco tesouro viking enterrado perto da cidade de Preston, no norte da Inglaterra. O achado, chamado Tesouro de Cuerdale, continha mais de 8 mil objetos, incluindo moedas de várias regiões da Europa e do Oriente Médio.

Após a descoberta, a moeda foi parar em coleções privadas, passando pelas mãos de estudiosos britânicos e, desde 1989, pertencia a um colecionador nos Estados Unidos. Em maio de 2025, ela foi leiloada na Suíça. O Royal Albert Memorial Museum (RAMM), de Exeter, com apoio de doações e fundos locais, conseguiu arrematar o item e trazê-lo de volta à cidade onde tudo começou.


Fotos: (Jam Press/Simon Tutty)

Por que isso importa para nós?

Pode parecer uma curiosidade distante. Mas a história dessa moeda fala de temas universais: preservação do patrimônio, construção da identidade, combate à destruição cultural e valorização da história local.

Alfredo, o Grande, não pertence só à Inglaterra — sua trajetória mostra como líderes podem usar conhecimento, cultura e urbanismo para reconstruir sociedades em tempos de crise. É uma lição que atravessa fronteiras.

Além disso, o debate sobre onde peças históricas devem estar — em grandes museus ou em seus locais de origem — é cada vez mais atual. O retorno dessa moeda para Exeter mostra que dar acesso às comunidades ao seu próprio passado é mais importante do que acumular tesouros em capitais ou centros turísticos.

Uma pequena peça com grandes significados

Tom Cadbury, curador do RAMM, disse que o museu acompanha essa moeda desde 1868. “É incrível que ela esteja finalmente voltando para casa.” Para o vereador Bob Foale, responsável pela cultura em Exeter, a moeda “nos conecta diretamente com nossas origens”.

Agora, a peça será exibida ao público em uma cidade que, graças a ela, foi colocada no mapa — literalmente. Pequena como uma moeda de cinco centavos, ela carrega um pedaço do nascimento de um país inteiro.

Para o público brasileiro, a história de Alfredo, da moeda e de Exeter é um lembrete: preservar a memória é também construir o futuro.

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Comentário recente

  • user por Ivan B Carmo

    Bom dia! Uma pessoa da família, herdou uma coleção de mais de mil moedas e notas antigas e me ofereceu para comprar ou vender, por favor, aí em Goiânia teria colecionadores que interessariam por um lote assim? Desde já, agradeço!!

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  • user por Gilberto da Silva Motta

    Tenho várias moedas inclusive de 1945 (algumas) tenho curiosidade pela história

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  • user por PAULO

    Tenho uma para vender. 31 98351 0618 Zap 31 982577559

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